O Tamar agora é ''trintão''
O projeto que começou com jovens oceanógrafos indignados porque nenhum ninho de tartaruga dava filhotes completa 30 anos com o mérito de ter restabelecido o ciclo de desova das espécies que frequentam a costa brasileira
por Karina Ninni
Tartarugar. Carebar. Verbos que, graças aos 30 anos de existência do Projeto Tamar, mudaram de significado ou foram banidos do dicionário de muitas comunidades litorâneas.
Quando os então recém-formados em Oceanologia Catu (José Catuetê de Albuquerque) e Guy Marcovaldi começaram a coleta de dados para a implementação do projeto, o termo tartarugar era utilizado no litoral de Sergipe para designar a prática de pegar os ovos dos ninhos sem matar as fêmeas. Já os carebeiros - como eram chamados no Espírito Santo - matavam as tartarugas (carebas) durante a desova na praia, para comer a carne e usar o casco. "Quando começamos, nenhum ninho de tartaruga dava filhotes. O ciclo estava interrompido", relembra Neca Marcovaldi, hoje presidente voluntária da Fundação Pró-Tamar, que coadministra o projeto. "Se não fosse pelo Tamar, essas tartarugas não teriam tido nenhuma chance".
Os números comprovam. Em seus 30 anos, celebrados este mês, o projeto está prestes a atingir a marca de 10 milhões de filhotes nascidos sob sua proteção. O Tamar - hoje vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) - monitora cerca de 20 mil desovas todos os anos, em mais de mil quilômetros de litoral e ilhas oceânicas. E libera 900 mil filhotes no mar. Mas a tarefa de proteção esbarra em desafios. Um deles é a necessidade de parceria com países vizinhos, já que as tartarugas migram milhares de quilômetros por ano. Podem, por exemplo, se alimentar em um país e desovar em outro. Sem essa cumplicidade, a conservação é impossível.Até 1979, o Brasil não sabia nada sobre tartarugas marinhas. Foi quando o IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) participou de uma reunião em Washington, a convite da OEA (Organização dos Estados Americanos). A então representante do órgão federal voltou envergonhada, pois, diferentemente do Brasil, países como a Costa Rica e o Suriname apresentaram trabalhos sobre o tema. E resolveu agir, montando uma equipe.
Chamou jovens oceanólogos formados pela Universidade Federal do Rio Grande (RS), que em 1977 haviam presenciado a matança de 11 tartarugas no Atol das Rocas (RN). De praia em praia, viajando em barcos pequenos, monitorando as areias a pé ou a cavalo, recolhendo dados com as comunidades, os pesquisadores foram mapeando a presença das tartarugas e definindo locais para as primeiras bases de apoio.
Descobriram que, das sete espécies existentes no mundo, cinco estavam presentes no Brasil. Dessas cinco, quatro desovam no litoral e uma nas ilhas oceânicas. Descobriram ainda que a desova ocorria de setembro a março, no litoral, e de janeiro a junho, nas ilhas. E que daria trabalho convencer as populações costeiras a abandonar o hábito de consumir os ovos e a carne. "Encontramos resistência no início. Mas contratamos os melhores tartarugueiros e carebeiros para trabalhar no projeto, o que foi crucial para o sucesso do Tamar", afirma Neca.
CONSCIENTIZAÇÃO
Atualmente com 23 bases de pesquisa, o projeto mantém um banco de dados e 11 centros de visitantes, que recebem 1,5 milhão de pessoas ao ano.Nos tanques, aquários e piscinas de toque, elas aprendem sobre as tartarugas e o ecossistema em que vivem. Em alguns centros há cinema e teatro. A conscientização deu certo. Hoje, somente 30% dos ovos encontrados precisam ser transferidos para cercados de incubação. O restante pode ficar na praia. E o verbo tartarugar, agora, designa uma prática de monitoramento.
O que não quer dizer que as tartarugas marinhas estejam livres de risco. De cada mil filhotes, somente um ou dois conseguem atingir a maturidade. Elas sofrem, por exemplo, com o lixo jogado no mar. Segundo o Tamar, a ingestão de plástico mata uma em cada quatro tartarugas encontradas sem vida e analisadas no projeto. Elas confundem os objetos com comida.
A outra ameaça é a pesca incidental, quando elas são capturadas junto com os peixes. O problema deu origem, em 2001, ao Programa de Interação Pesca e Tartaruga Marinha. "Isso ocorre em todo o litoral. Elas são fisgadas por anzóis ou ficam enroladas nas redes", explica Gilberto Sales, oceanógrafo e coordenador do programa. "Temos observadores monitorando os barcos de pesca e tentamos convencer os pescadores a trocar de anzol", diz Sales, salientando que a mudança de anzol reduziu em 60% a captura incidental.
A prioridade, hoje, é garantir que as tartarugas consigam atingir a idade adulta. Isso demora 30 anos. O que significa que a primeira geração de filhotes lançada ao mar pelo Tamar está chegando à maturidade agora. Junto com o projeto.O início1977: Os então estudantes de Oceanologia Catu, Guy, Neca, Nice e Lauro vão ao Atol das Rocas e presenciam a matança de 11 tartarugas de uma só vez. 1979: Começa, no IBDF, a montagem da equipe que dará origem ao Projeto Tamar. 1980: Início da pesquisa de campo, com o levantamento das espécies no litoral brasileiro.1981: A primeira base do Tamar é instalada em Pirambu, no litoral de Sergipe.Pesquisa1982: Início da marcação e avaliação de espécies. A equipe vai pela primeira vez à Praia do Forte (BA) e a Regência (ES), futuras bases do projeto. Realiza também uma grande expedição ao Atol das Rocas para observar e documentar os hábitos das tartarugas marinhas. Constrói o primeiro cercado de incubação, em Pirambu (SE). E monitora a primeira temporada de desova envolvendo as três bases, com a liberação de 8 mil filhotes.
Expansão
1983: Começa o trabalho na praia de Arembepe (BA), depois que veranistas presenciam uma desova, à tarde.
1984: O Tamar começa a operar em Fernando de Noronha.
1988: Criação da Fundação Pró-Tamar, que coadministra o projeto, ainda no âmbito do IBDF.
1989: Surge a primeira confecção de produtos Tamar. O Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) substitui o IBDF.
Maturidade
1990: A portaria 043/90, do Ibama, cria o Centro Nacional de Conservação e Manejo de Tartarugas Marinhas - Tamar.
1991: É criada a base de Ubatuba (SP), a primeira em área exclusiva de alimentação, com captura incidental alta. Berenice Gallo / coordenadora.
1992: São criadas as bases de Almofala (CE) e Atafona (RJ). A base de Almofala é a segunda em área exclusiva de alimentação. Criada a segunda confecção de produtos Tamar em Pirambu.
Frutos
1997: Prêmio J. Paul Getty - concedido anualmente pela WWF (World Wildlife Foundation) e considerado o "Prêmio Nobel" do Meio Ambiente.
2001: Início do Programa de Interação Pesca e Tartaruga Marinha.
2003: Prêmio Unesco na categoria Meio Ambiente.
2010: Comemoração dos 30 anos do projeto, com shows e o lançamento de um CD com canções sobre as tartarugas.
Nós da MiraTerra, que apoiamos o trabalho do TAMAR, em especial eu Marcos Fernandes Gaspar, parabenizo a Berenice Gallo, coordenadora do TAMAR Ubatuba, amiga pessoal e uma profissional que faz a diferença na luata para a conservação destes animais maravilhosos!
Parabéns Bere!
PROJETO TAMAR - 30 ANOS DE SUCESSO!
olá. Amo defender o meio ambiente e o social. Esse blog vem demonstrar a necessidade de todos se conscientizar da necessidade de respeitar para que possa sobreviver a fauna, floresta, o próprio homem.
ResponderExcluirÉ tão triste ver as queimadas por exemplo da cana-de-acuçar. Ainda bem que em 2014 acaba essa queimada. Os animais silvestres, os passáros vem fazer seus ninhos nas cidades. O homem joga lixo no proprio ambiente mata nos bichinhos!!! da terra. Continue com sua luta. tenho orgulho de Brasileiros que lutam pela manutenção da vida na Terra.