Nesta quinta-feira (22) é comemorado o Dia Internacional da Água. Em
2012, o tema é Segurança da Água e da Comida, com a preocupação voltada
para o aumento da população e a falta de recursos.
Cada ano tem um tema. Os últimos foram: Água para cidades (2011),
Qualidade da Água (2010), Águas Transfronteiriças (2009) e Ano
Internacional Sanitário (2008).
Desta vez, o que baliza os debates é a questão de que 7 bilhões de
pessoas já habitam este planeta, e o número deve chegar a 9 bilhões até
2050. Cada uma consume, em média, 2 a 4 litros por dia. Além disso, segundo o site das Nações Unidas para a data, consumimos
ainda mais água ao comer, já que a produção de um bife ou de trigo
consume muita água.
Agenda
Azul
O 6° Fórum Mundial da Água, realizado
nesses dias em Marselha (França), não deixou margem para dúvidas: ou se investe
decididamente na proteção dos recursos hídricos do planeta, ou a civilização
humana padecerá de terrível escassez. Que já se
manifesta.
Relatório da ONU, apresentado no encontro,
aponta a irrigação agrícola como séria questão a ser enfrentada. Primeiro,
porque tal técnica demanda muita água, cerca de 70% do total; segundo, devido à
dramática necessidade para alimentar uma população que deverá atingir 9 bilhões
de habitantes em 2050. Segundo as revisadas, e mais precisas, estimativas da
FAO, a produção de comida precisa crescer 60% nesse período, e isso somente
parece possível aumentando as áreas irrigadas no campo.
Resultado: vai aumentar a necessidade de
água para as lavouras, especialmente nos áridos países do Oriente Médio que,
aliás, importam cada vez mais alimentos. Mudanças climáticas devem alterar o
padrão das chuvas, provocando secas mais prolongadas e derretimento de geleiras.
Tudo conspira contra o abastecimento. Estudos indicam que, sem decididas
políticas de manejo de água, 40% da população mundial viverão em áreas de alto
estresse hídrico até 2050.
Estimativas de longo prazo, claro, sempre
carregam muita incerteza. A terrível seca, porém, que afetou, neste 2011, as
grandes planícies norteamericanas, prejudicando a irrigação e restringindo a
água para consumo humano pareceu um aviso recente dos céus. No Brasil, novamente
o fenômeno climático La Niña provocou forte estiagem, derrubando a safra, e
arrancando os cabelos, dos agricultores sulinos. Dentre as dúvidas, uma certeza:
preservar os mananciais d’água será estratégico nas políticas sustentáveis do
futuro.
A situação anda preocupante. Cerca de 25%
das áreas agrícolas mundiais se degradam, de forma mais ou menos severa, em
decorrência da má, e intensiva, agricultura. Esta depaupera os recursos
hídricos, reduz a fertilidade dos solos, aumenta a erosão. A contínua irrigação
tem provocado a salinização dos solos em certos locais, fazendo decair a
produtividade agrícola. Lençóis freáticos, bombeados para a superfície, se
aprofundam, prejudicando o enraizamento das plantas; o desmatamento e os ventos
causam desertificação. Na Espanha, na Austrália, nos Estados Unidos, na África,
por onde se procura se percebem ameaças contra a segurança
alimentar.
Olhos enviesados atribuem à agricultura o
papel de vilão na equação mundial da água. Algo injusto. Acontece que mesmo
gastadora, a prática da irrigação rural pouco compromete a qualidade da água,
exceto quando esta se contamina com resíduos de agrotóxicos persistentes, comuns
no passado, mas pouco utilizados hoje em dia. Após regar as plantas, via
aspersão ou no gotejamento, o precioso líquido se percola pelas entranhas da
terra, corre aos riachos ou se evapora, cumprindo o ciclo natural da
água.
No uso urbano, ao contrário, o
abastecimento das residências polui organicamente as águas nos vasos sanitários;
na pia da cozinha e na lavanderia ela se mistura ainda com detergentes e
saponáceos. Já nas unidades industriais, as águas utilizadas se contaminam com
solventes e demais produtos químicos, que lhe roubam a vida. Nas cidades, que
ninguém duvide, ambas a demanda e a poluição são
tremendas.
O Fórum Mundial da Água de 2012 contou,
entre as 180 delegações participantes, com a presença de uma orgulhosa comitiva
paulista. Ela representava o exitoso “Pacto das Águas São Paulo”, um programa
que nasceu há três anos às margens do rio Jacaré Pepira, no município de
Bocaina. Ali, tendo à frente o então governador José Serra, centenas de
prefeitos e outras autoridades municipais se comprometeram a aderir ao “Consenso
das Águas” de Istambul (Turquia), documento histórico que define tarefas na
gestão descentralizada dos recursos hídricos.
Esse azulado movimento ambientalista,
organizado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (www.ambiente.sp.gov.br/pactodasaguas), cresceu sem parar,
ultrapassando as expectativas iniciais. Dentre os 1070 signatários, oriundos de
49 países, ao Consenso das Águas de Istambul, 595 adesões se originam nos
municípios paulistas. Notável. O “Pacto das Águas São Paulo” configura o maior
programa já realizado no Brasil em defesa dos recursos hídricos, com foco na
gestão local, dentro das bacias hidrográficas. Lição de casa bem
feita.
Em fins do ano passado, o governo paulista
promoveu uma avaliação sobre o desempenho dos municípios, premiando os primeiros
colocados. Entre aqueles de maior população, 94 municípios cumpriram as metas
estabelecidas no programa em defesa das águas, capitaneados por Sorocaba, Tupã,
Paulínia, Itapira e Batatais. Já entre os pequenos municípios, abaixo de 20 mil
habitantes, 135 deles mostraram os melhores resultados, liderados por Regente
Feijó, Bilac, Bocaina, Lindóia e Santo Antonio do Jardim. Podem tirar o chapéu
para eles.
Por todo o
estado de São Paulo, corredores ecológicos se formam sinuosamente acompanhando
os córregos. A recuperação dessa mata, chamada ciliar como se os olhos
abrigassem, garante a plena função ambiental da biodiversidade, promovendo a
junção do verde (vegetação) com o azul (água). Na beirada dos riachos, no
entorno das nascentes, ao redor dos lagos, nessas paragens a vida selvagem
floresce, a natureza se torna exuberante. Água é vida.
Hoje se comemora o
Dia Mundial da Água. Mais que discursos, gestos de simpatia e lembranças nos
bancos escolares, espera-se ações concretas, coletivas e individuais, em defesa
da agenda azul. Água potável, mundo sadio. - Xico Graziano
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